Poesias

Cor de terra

Quando silenciei meus medos

Deixei minha cor dar seu recado

Delicada

Me disse que eu era mais do que parda

E que poderia me camuflar por entre as árvores

E ser rio

Ou capim

Ou palha

Cor de encantamento

Cor de poesia orgânica

Cor de mãe d’água

Cachoeira

Mãe do Mato

Cor de índia

Cor de genipapo

Cor de terra

Areia

Poeira

A mulher cor de terra

A mulher cor de pôr do sol

Uma muiteza só

Desistência

Existe um apego com a desistência

Com o desandar das coisas que começam para ser e se perdem, não sendo mais.

Existe algo de subversivo no sair fora

No desapego da ideia pré-moldada para vencer

Existe o opaco da repetição e a ciranda que te joga para longe da roda viva

Mas existe o prazo que te salva e induz

E existe luz que se acende a cada nascer e pôr de sol e pronto!

Muito perto

Dê-me de presente a sua presença

Sentindo com todos os cinco sentidos e meio ou seis 

Ouvindo meu murmúrio de mulher doida

Vendo meus cílios cerrados

Podemos acender um incenso para garantir que estamos sentindo o mesmo cheiro

Mantenha suas mãos fixas em toda extensão da minha pele

Lamba meus dedos devagar

E me deixa sentir a energia emanada de todo esse enrosco

Deixo!

Me deixa bagunçar tua paz organizada

Me deixa ser caos em suas mãos de pintor

Me deixa desmanchar tua ordem e tua moral

De bons costumes o inferno está cheio

E o mal não prevalece na casa dos bons

Ser indígena

Sabe essa ligação com a água dos rios e igarapés?

Sabe a paz que vem do cheiro de mata?

Sabe a sensação que brota no coração quando o sol do fim da tarde faz ficar dourado o capim?

Já ouviu o canto ancestral de uma anciã Macuxi?

Sentiu o perfume do Marwai purificando seu corpo e alma?

Sabe o amor mudo pelos animais?

E o medo dos encantados desconhecidos ?

Na cidade ou na comunidade, ser indígena é algo mais profundo, que te acompanha por toda a vida.

E more você onde for, esteja imerso em outras culturas ou não. As raízes da terra sempre vão de chamar.

Porque ser indígena é algo mais profundo. Está na pele marrom dourada,

Está na valentia de retomar sua identidade étnica, mesmo vendo dia e noite as pessoas destilarem preconceito velado e desdém. Ser indígena é algo mais profundo, algo que nos conecta com o todo da mãe natureza e nos habita por inteiro. Nesse mês de abril, um viva a todos os povos indígenas do Brasil.

Ditames

Descobri que os dias de chuva foram feitos para poesia

Para escrever poesia também

E pensar no amor enroscado nas pernas

Que a gente leva pra onde vai                               

E nesse setembro que invernou

Eu me cuido, me anulo, me penso e me salvo de mim

Salvo-me desse calor de deixar doida

Das inseguranças e dos cheques em branco que a gente dá para a vida

Salvo-me para poder jogar com gosto de aventura

Num outro mundo de gente branca e loira

Com meus badulaques de parda que muito ama

Rolar para cima