Conversa e ditames
Conversa
A centopeia vem andando nos ladrinhos da cozinha
O menino grita: Olha! A centopeia está magra e precisa comer
Os cães ladram para o vazio
O calor morno deixa aturdida as mentes e os tijolos estalam
E estala a centopeia com a morte repentina
E vem o choro! Piseeei na centopeeeeia!
Acalma, criança, centopeias renascem
No mundo espiritual?
E centopeias podem renascer híbridas?
Se acalma, menino, fala coisas da sua idade: penso.
E sabia que os pombos dão leite a seus filhotes?
Não! Pombos botam ovos!
Não mamãe. Dão leite aos recém-nascidos
E ele tinha razão a despeito da minha ignorância sobre pombos
Enquanto isso os pés de bouganville trabalham a todo vapor
Puxando água do solo quente de setembro
Quando a chuva chega e lhes dá uma folga de repente
Elas sentam aliviadas e choram
A vida não é fácil
Nem para gente, planta ou centopeias
Ditames
Descobri que os dias de chuva foram feitos para poesia
Para escrever poesia também
E pensar no amor enroscado nas pernas
Que a gente leva pra onde vai
E nesse setembro que invernou
Eu me cuido, me anulo, me penso e me salvo de mim
Me salvo desse calor de deixar doida
Das inseguranças e dos cheques em branco que a gente dá para a vida
Me salvo para poder me jogar com gosto de aventura
Num outro mundo de gente branca e loira
Com meus badulaques de parda que muito ama
Show. Muito lindas e imagéticas as três. Temos assim o nascimento de uma poeta cronista.
A vida é feita de renascimentos, não é mesmo?! E elas, as poesias, parecem nascer em algum lugar da mente e com vida própria se projetam pra fora, nem que seja a força rsrs. Obrigada pela leitura, Ed.