CotidianoCrônicas

Não desconstrua!

Eu ia escrever sobre um curso de Comunicação Não Violenta(CNV) que estou fazendo. Mas meu coração dormiu aflito com as notícias vindas do Brasil. Um presidente informando que vai acabar com o financiamento de graduação e pesquisas em duas das principais ciências formadoras de pensamento crítico em qualquer lugar do mundo: sociologia e filosofia. Uma obsessão burra e descabida, um golpe em nossa liberdade, em nosso direito de escolha, o que temos de mais importante em qualquer nação democrática.

Quando um presidente vai ao Twitter dizer que seu ministro estuda descentralizar recursos dessas áreas e direcioná-los para outras áreas, ele coloca todos os estudantes e pretensos estudantes em alerta e desgosto. É nauseante. De uma hora para outra, pensar demais nos torna inimigos do Governo. O recado vai em dois sentidos: ou são inúteis ao país ou são perigosos. Ambas insinuações são graves e repito, afrontam a liberdade de escolha do cidadão.

O que o senhor presidente não sabe é que não adianta tentar calar o povo. Mesmo sem dar a devida atenção aos seus pesquisadores, professores e intelectuais, todos sabem que o conteúdo necessário para nunca mais calar e aceitar um Governo canalha é de livre acesso pela internet. O intento de ‘acabar com o marxismo cultural’, é vão. Pode voltar a queimar livros, pode até queimar ‘comunistas’ em praça pública. Nada vai parar a necessidade do ser humano de pensar nos grandes problemas sociais do mundo e chegar a conclusões meio obvias. A vida não vai bem se for boa só para alguns!

Se o objetivo final é encontrar maneiras de ter um país com necessidades básicas garantidas e dignidade para todos, a leitura dos grandes pensadores é obrigatória, sejam eles progressistas ou conservadores. Enquanto isso tudo ocorre, a liquidez desta sociedade não permite que o cidadão comum dedique mais que três minutos de seu dia, se muito, pra pensar o quão perigoso são os caminhos que a nação está tomando. A maioria dos brasileiros está tentando sobreviver, comendo e pagando contas, outros mais preocupados com o último lançamento dançante do Spotify ou com o resultado do longo e cansativo campeonato nacional de futebol que já começou e sinceramente, a mim só resta o metafísico. Se eu não tivesse fé em um Deus bom e justo o tempo todo, já teria pirado, pois não consigo sinceramente não me importar.

E pior é eu nem ter me refeito dessa indignação e já ter umas outras situações bizarras só esta semana, como, por exemplo, o veto ao vídeo lindo e criativo do BB e o incentivo ao turismo sexual só com ‘mulheres’. É muita descompostura. Quando eu tinha 18 anos eu era muito impulsiva e falava sem antes avaliar as consequências do que iria dizer, mas repito, eu tinha 18 anos. Ver a maior autoridade do país com esse impeto é desolador!

Vanessa Brandão

Vanessa Brandão é jornalista amazônida. Manauara de nascimento, criada em Roraima, é indígena descendente do povo Wapichana. Doutoranda em Estudos Literários pela Unesp – SP, mestra em Letras pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), pesquisando sobre arte e literatura indígena. Tem especialização em Assessoria de Imprensa e Novas Tecnologias da Comunicação e em Artes Visuais, Cultura e Criação. Publicou seu primeiro livro em 2022, com o título ‘Entre Pinheiros e Caimbés’. Escreve poesias, crônicas e contos e trabalha na produção de um romance. Atualmente mora parte do tempo em Lódz, na Polônia e parte em Boa Vista, Roraima, no Brasil

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Vanessa Brandão

4 thoughts on “Não desconstrua!

  • Avatar

    Ele vai ser proibido de usar twitter.
    🤭🤭🤭🤭🤭
    Saudade!!!!

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    • Vanessa Brandão

      Mana, só falta kkk!

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  • Fico confusa até pra tecer um comentário, de tanta dificuldade que tenho pra entender os atos desse governo… Além de ser um governo caótico, o contexto em que vivemos é louco também: tudo mudou! É a quarta revolução industrial, me corrija se eu estiver equivocada. Assim, praticamente NINGUÉM mais dá valor às análises profundas e concentradas. As pessoas, em geral, não conseguem mais se concentrar em textos longos e reflexivos. Querem tudo na velocidade de um toque na tela: textos curtinhos (textículos, né? Hahaha), superficiais. O governo, mal intencionado sempre, se aproveita desse efeito deletério que a internet vem causando no comportamento e no cérebro das pessoas. E governos quase sempre são mal intencionados, guiados por alguma força espiritual sombria… portanto, as pessoas, já imersas nessa preguiça mental, acabam por nem discordar do governo, porque elas mesmas acham inútil a filosofia.

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    • Vanessa Brandão

      Excelente reflexão, Cris. Você contribui sempre. Essa questão da superficialidade das pessoas é grave e terá efeito devastador a longo prazo.

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