O mundo deveria mimar pais e mães dispostos a bem educar nossos humaninhos
Você já reparou que quando tratam bem, elogiam, dengam ou simplesmente sorriem para nosso filho, a gente se derrete e se desarma? Tem até ditado popular que diz “Quem meu filho agrada, minha boca adoça”. É verdade, muita verdade. Mais que isso, a gente não esquece e fica pronto para retribuir. O contrário também é verdade, pois não sou totalmente evoluída não.
Sábado é dia do nosso passeio em família e novamente fomos levar o Luigi ao salão de games, depois fomos jantar em um restaurante novo. Ao chegar, a moça nos apontou logo um cantinho para estacionarmos o carrinho do Luigi (sim, carrinho de bebê, ainda usamos pois Luigi reclama de bater perna por muito tempo e eu super indico, faz bem pra sua saúde mental, mãe). Nos acomodamos na mesa e a mocinha polonesa logo traz um papel cheio de desenhos de personagens conhecidos e um copo cheio de lápis coloridos, com pontinhas recém afinadas. Luigi sorri e imediatamente começa a pintar de amarelo o Bob Esponja calça quadrada. “Mamãe, o olho dele é azul né? Eu ainda estava reparando na decoração do restaurante. Cada lugar é único por aqui. Não teríamos entrado se o cardápio não ficasse exposto na parte de fora do local, permitindo que víssemos os preços. Pela iluminação, lotação e decoração, teríamos deduzido que seria os olhos da cara.
Comida árabe e indiana, com toques poloneses, luzes quentes, lustres de taça de vidro de cristal, ambiente com traços retos, meio industriais, com detalhes coloniais, música americana animada, muitos garçons jovens e sorridentes. Ai, gente! Eu curto demais ir a um lugar novo, muito mais do que pela experiência gastronômica. Eu gosto de imaginar a vida de cada família ou casal nas mesas ao redor, imaginar que tipo de inspiração teve o arquiteto ou designer de interiores ao elaborar tudo aquilo, gosto de ver e gravar os detalhes criativos e diferentes, a organização dos cardápios (mesmo que eu não entenda nada), a apresentação organizada dos pratos e finalmente, gosto de sentir primeiro cheiro de um novo sabor. Sou meio selvagem, gosto de cheiros mesmo, cheiro de temperos diversos, desconhecidos e como aquilo impacta e derrete na boca. Antes de comer, eu absorvo discretamente a fumaça sutil que sobe do prato posto à minha frente. Se não fosse uma absoluta falta de educação, eu levantaria da cadeira e me inclinaria para a frente no intuito de cheirar a comida do Reinaldo. Cozinhar é arte mesmo, a partir do momento que desperta em mim sentidos e sentimentos novos.
Voltando para a terra, percebi que o papel cheio de desenhos que Luigi estava pintando era um cardápio todo elaborado para crianças. E com preços pequeninos, que nem meu menino. Sério, acho muito incoerente chegar a locais que até se empenham em fazer um prato ‘kids’, mas cobram quase o mesmo preço de um prato adulto. Criança come pouco, então façam um prato pequeno, decoradinho e com preço condizente, sejam justos, nos poupem. Optar por ter filho e criá-los bem é uma tarefa difícil pra caramba, cara pra caramba, cheio de tropeços e renúncias, custa afagar o coração e o bolso dos pais? Um bom futuro para a humanidade depende de quem se dispõe a ter filhos e criá-los para serem pessoas boas, criativas, empáticas. Deveríamos ser mimados e cuidados. As mães solo, os pais solo (muito raros) deveriam receber ainda mais apoio. Deveríamos falar mais sobre a possibilidade inclusive de não ter filhos, pois tem gente que não, não deveria mesmo se obrigar a isso.
Deveríamos conversar mais, coletivamente, em espaços como a TV, os jornais, a sala de aula de universidades e escolas sobre ter filhos, sobre a rede de apoio existente e as falhas dessa mesma rede, para que todos saibam dos desafios e renúncias necessárias. Governo Federal e Estadual deveriam também investir em creches. Por quê deixar para o município a construção e manutenção desse espaço tão crucial para o aprimoramento de qualquer sociedade? É um erro, um grande erro! Uma mãe que não tem um lugar seguro para deixar o filho, a coisa mais valiosa de sua vida, será pessoa com produtividade ameaçada, ou pior, para prover o sustento da pequena família, deixa o filho em mãos não cofiáveis, exposta a abusos, traumas, coisas que marcam o ser humano para o resto da vida. Temos convivido com muitos adultos doentes, mas não conversamos sobre isso e não solucionamos problemas sociais básicos de nossa sociedade.
Voltando ao restaurante, pedimos todos os pratos, nossas bebidas. O pratinho do Luigi chegou em 10 minutos, coisa mais fofa. Ele comeu e pintou por mais de uma hora, tranquilo e sereno, saímos felizes de lá. A propósito, toda essa experiência não custou nosso fígado, algo que nos deixa felizes aqui na Polônia, mas fui para casa refletindo silenciosamente sobre os muitos olhinhos tristes dos pequenos venezuelanos nas ruas de Boa Vista e crianças indígenas brasileiras que anseiam por uma oportunidade de viver momentos de alegria singela com suas famílias. Na hora de fazer Luigi dormir, rezamos baixinhos pela proteção de todas as crianças do mundo.
Um restaurante igualzinho aos de BVB #sqn né? Que bonitas experiências e reflexões.