A serenidade das ondas altas
Eu sabia que não conseguiria atualizar e trabalhar neste espaço do modo como eu gostaria, com a frequência e o protocolo que um blog requer, tendo em vista as demandas da vida real, mas passo para deixar registrado esse fim de “férias” em Roraima. Longe do Reinaldo desde o dia 21 de junho, quase quatro meses nesse dialogo virtual, é até clichê falar de saudades, não só do marido, mas do Reinaldo pai do Luigi. O bom de olhar para tudo isso é ver que nossa relação amadureceu, serenou e sabe que a distância é parte de um contexto mais importante para todos nós nesse processo de mudança de vida. O primeiro semestre desse ano, na Itália, nos aproximou de forma sublime e nos fez perceber o quanto estávamos precisando disso, só nós três, estreantes do outro lado do mundo.
Eu sigo aqui em RR com uma rotina muito produtiva e nada produtiva. Já me perguntei o porquê de ter um mestrado e um doutorado, me submetendo a esta gestação incerta, desgastante intelectualmente, cheia de altos e baixos, num terreno que nem é o meu (Comunicação), mas pelo qual eu só me apaixono e me perco ainda mais. Letras, arte, literatura e cultura são tão interessantes e ao mesmo tempo universos tão vastos e distintos, que colocar a cara dentro deles, por meio do mestrado, me fez perceber que sei tão pouquinho de tudo e que mesmo que tivesse mais quatro anos para ler e escrever uma tese, continuaria a saber muito pouco.
Na vida pessoal, coisas grandes e difíceis têm acontecido em minha família. A minha avó, nossa matriarca, teve que fazer uma cirurgia para retirada do útero. Saiu andando daqui, dizendo estar feliz e otimista pois não tinha medo de cirurgia. Aos 84 anos, Joaquina é um misto de doçura e bravura, mãe de 10 filhos, 23 netos e seis bisnetos, todos vivos. Esposa do vovó Onildo, no auge dos seus 94 anos de história. Fato é que algo não saiu muito bem nesse processo cirúrgico e ela está na UTI há 21 dias. Hoje, mesmo sem sedação, não acorda, não sabemos o motivo, nem os médicos conseguem precisar. Penso em Joaquina indo longe em espírito, correndo desse mundo maluco, olhando o gado dela aqui, todo mundo criado e ela querendo descansar em paz. Mas esse gado é apegado e tem reza forte, ninguém quer deixá-la ir e quem quer se separar da mãe? Mães não deveriam morrer. Se um dia eu puder conversar com Deus, direi: algo muito importante precisa ser mudado na configuração da humanidade senhor, mães devem ser perenes, um ser especial, que transita entre o físico e o etéreo, sempre ao lado dos seus.
O meu desejo é que ela esteja bem antes de voltarmos para Europa. Por todo esse contexto, essa ida está sendo mais complexa do que a primeira, em fevereiro. Primeiro porque eu sabia que iria, mas logo voltaria para finalizar o mestrado. Dessa vez, no entanto, não tem data certa de retorno à Roraima e levantar as raízes desse chão não é tão simples, principalmente diante da possibilidade de uma das raízes mudar desse plano físico para o mundo espiritual.
É o fluxo natural da humanidade, mas mesmo diante de todos os ensinamentos da doutrina espírita, permanece um aperto no peito, que requer com frequência o esforço de uma respiração profunda para serenar e confiar. Sigamos!
Que texto lindo e carregado de reflexões que podem ser aplicadas por muitas pessoas.
Grata, meu amigo! Obrigada por todo incentivo.